[CENA] 04 ― Esmeralda

Os braços marcados para sempre em honrarias eternas e o cabelo rebelde oculto por um chapéu fedora com uma carta de baralho ao lado, juntos ao sorriso jocoso e o cigarro entre os lábios compunham ali o que poderiam definir o Valete. Sentado em um canto isolado da taverna, ele arrancava, lentamente, cada pétala das flores de enfeite de sua mesa. O prato vazio, que antes continha sopa, agora recebia cada uma dessas pétalas. Todos os que estavam sua volta o ignoravam, mas ele não fazia questão que o reparassem, ele fora até ali apenas para reparar, não o contrário.

Ao centro da taverna havia uma bela donzela de pele bronzeada e cabelos rosados que entretinha os clientes. A maquiagem escura e os trajes leves davam-lhe liberdade em seus movimentos e, segundo a mente daquele valete, também um ar erótico em seu dançar. Ela tinha um brilho charmoso em seu olhar, ele admirava-a sem qualquer vergonha de ser percebido pela dançarina. Regularmente, dia após dia, noite após noite, ele estava ali. Esperando para vê-la dançar. Ao final de cada dança ela sorria para ele, ao longe sem qualquer manifestação de que iria se aproximar dele, mas não naquela noite. Aquela seria sua noite.

Quando os aplausos despertaram-no de seus devaneios sobre a bela dançaria, ele levantou. Caminhou até o centro da taverna e a beijou. Beijo que ela correspondeu e o silêncio na taverna se formou. Ele sentiu, finalmente, o toque de sua pele, o cheiro distinto dela e ouviu-a dizer quando se separaram que ela o esperava; ele sorriu e a enlaçou com os braços e guiaram-se para fora dali.

“Qual é o seu nome?”, ele perguntou quando já fora da taverna estavam. O luar os iluminava enquanto caminhavam pelas ruas de tijolos.

“Esmeralda”, ela respondeu.

Com um sorriso em seus lábios, ele a beijou.

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